"Falar que não, é mentira". Assim a grande maioria dos motoristas responde se acessa o celular no trânsito. Com a popularidade cada vez maior de smartphones, de aplicativos e a abundância de outros dispositivos eletrônicos portáteis, o comportamento se torna cada dia mais frequente. O resultado é a distração ao volante, motivo de um terço dos acidentes, conforme pesquisa do Centro de Tecnologia Allianz.
"Falar que não atendo o celular, ou não leio mensagem e WhatsApp, seria uma baita mentira. Tenho consciência que estou errado, mas a curiosidade fala mais alto e todos os dias faço isso", admitiu o consultor de vendas Jossandro Oliveira, 28 anos.
De motocicleta, ele vai ao trabalho e à universidade. "Estudo na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) e tenho mais medo de parar a moto, nas ruas escuras, e ser assaltado do que ler e responder WhatsApp", comentou.
Questionado se nunca passou sufoco ou se envolveu em acidente por causa da distrição, Jossandro comemora o índice zero. "Graças a Deus nunca aconteceu nada, mas conheço muita gente que passou nervoso e até perdeu o controle do carro, depois de atender ligação ou ler mensagens", contou.
A comerciante Ana Carolina dos Santos, de 20 anos, aprendeu a lição. "Ouvia aquele barulho do WhatsApp, ficava doida de curiosidade e começava a futricar, mas, há quatro meses, enquanto descia a Avenida Afonso Pena, me distraí com o aparelho e acertei a traseira de um outro carro. Por sorte, ninguém se machucou e, hoje, estou bem mais esperta e não olho o celular", disse.
O supervisor de vendas Deivair Valenciano, 24 anos, por enquanto, não se envolveu em acidente, mas também tem costume de mexer no celular no trânsito. "Falar que não, é mentira", afirmou. "A curiosidade é grande e não resisto", justificou.
Atuando na área da telefonia, Mykael Alves, de 23 anos, não dirige, mas contou que a quantidade de motoristas que dirige e usa o celular é tão grande que já chamou a atenção das operadoras. "As empresas estão voltadas para desenvolver novas tecnologias e já criaram aparelhos que leem mensagens", ressaltou.
Pesquisa
O Centro de Tecnologia Allianz, que fica em Munique, na Alemanha, estudou as causas e consequências da distração e verificou que um terço dos acidentes ocorrem por esse motivo. Fazer ligações telefônicas ao volante sem usar o kit viva-voz é proibido em diversos países. Mesmo assim, o levantamento aponta que um número significativo de motoristas ignora a proibição.
No total, 40% dos entrevistados admitiu fazer ligações telefônicas ao volante sem usar o viva-voz. Ao mesmo tempo, cerca de 60% consideram o uso de telefone celular como sendo uma das fontes mais perigosas de distração no trânsito. A pesquisa é de 2011 e, segundo o instituto, o problema é cada vez mais frequente.
Ainda de acordo com o estudo da Allianz, motoristas que às vezes usam o celular enquanto dirigem, tiveram um acidente com frequência muito maior nos últimos três anos do que aqueles que não usam o celular – independentemente de ser em viva-voz ou segurando na mão. O risco de ocorrer um acidente aumenta de 2 a 5 vezes se o motorista utilizar um celular.
"Escrever mensagens de texto enquanto se dirige é ainda mais perigoso do que usar o telefone, porque os olhos, mãos e mente já estão altamente envolvidos. 20% dos motoristas admitiram que às vezes escrevem um SMS ou um e-mail enquanto dirigem. Um a cada três motoristas lê mensagens de texto enquanto dirige", disse Jörg Kubitzki, especialista do Allianz em segurança nas estradas.
A pesquisa informa também que o risco de ocorrer um acidente aumenta quando o motorista está ocupado com tarefas manuais: 43% dos entrevistados que haviam sofrido um acidente nos últimos três anos disseram ter usado o telefone ao dirigir. Entre aqueles que não tiveram um acidente, este número foi de apenas 26%.
Fonte: Campo Grande News